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Foto do escritorUTOPIA NEGRA - ENEGRECER A POLÍTICA AMAPAENSE

Guerra ou terror? Uma noite de execuções e a (in) segurança pública no Estado do Amapá

No 22 de maio de 2021, é divulgado por parte da mídia amapaense, que foi declarada uma vingança por parte das facções que controlam os territórios das periferias das cidades de Macapá e Santana. Um medo generalizado foi instaurado e sentido pelos moradores dessas periferias. Muitos tiroteios, execuções e outras formas de violência foram relatados.


Foto: Rudja Santos


Aqui, pretendemos não cair na falácia propagada por parte da mídia local sensacionalista que produz o seu conteúdo "jornalístico" em cima de corpos periféricos e nas lágrimas das mães, que são na sua maioria as vítimas dos confrontos entre facções e ações policiais truculentas, que podemos sem medo de chamar de execuções por parte da corporação da polícia militar do Estado do Amapá. Uma polícia violenta que é vendida como "heróis". A polícia no Estado reproduz uma lógica de que "quanto mais CPF cancelados melhor". O que esse modelo de insegurança pública fracassada ainda não entende é que mais mortes não significam necessariamente maior segurança, pelo contrário instaura o terror e o caos em um Estado devastado pela pobreza, desemprego e violência.


Se o Estado busca para si o "monopólio legítimo da violência" uma tese ultrapassada já que há vários grupos como as facções que também reivindicam a si a violência como um dispositivo de "ordem pública" e de autoridade. Neste jogo de reivindicações quem sofre e é morto são os moradores das periferias que estão no olho do fogo cruzado, um verdadeiro campo minado.

A central única das Favelas do Amapá, que vivencia cotidianamente e desenvolve ações nos territórios periféricos da cidade de Macapá, escuta e ouve os relatos dessa violência sem fim e sem precedentes. A violência é muito mais que um produto por domínios ou buscas por exercer certa autoridade.


A violência tornou-se uma mercadoria. Como qualquer mercadoria o seu valor é o lucro. Contudo, como a violência assume um valor mercadológico? A violência, dentro de uma lógica simbólica e material de 'guerra às drogas' faz com que as prisões cheguem ao ponto de estarem superlotadas, que pessoas inocentes sejam facilmente acusadas de crimes, e o Estado que de acordo com a constituição federal deveria permitir que jovens tivessem o direito à vida, o direito à educação, ao bem-estar e ao emprego, ele retira de si simbolicamente esse dever e joga para o indivíduo lavando a sua mão de qualquer responsabilidade social.


Nessa lógica, onde a desigualdade social, econômica, política e racial joga uma geração às margens. Nessas margens há uma instituição que atualmente funciona mais eficaz do que propriamente o Estado — as facções. Que mesmo com todas as críticas possíveis que podemos fazer é um reduto ou refúgio social e econômico que disponibiliza a muitos jovens o valor como pessoa, ou a valorização de si e ser reconhecidos como pessoas importantes. Essa rede de captação não irá resolver a condição social desses jovens e levá-los ao pleno exercício da cidadania e ter acesso ao Estado de direito. Pelo contrário, esses jovens cooptados pelas facções são somente corpos descartáveis ao mercado das drogas. O grande produtor de drogas continuará a lucrar com esses corpos que morrem como moscas.


O Estado do Amapá e a sua segurança pública por via da polícia militar como uma máquina de guerra e extermínio da juventude Amapaense sem qualquer responsabilidade ou uma investigação séria, se torna a polícia que mais mata no Brasil. Matar torna-se um símbolo, materialidade de uma suposta eficácia de segurança pública. Isso vende como água para a opinião pública.


Todavia, ninguém ganha com isso, e como neste 22 de Maio devastador, em uma noite de crime ninguém ficou mais seguro. As mães da favela continuarão a chorar sobre os corpos dos seus filhos.


É importante pensarmos em soluções práticas, objetivas, de curto e médio prazo para que essa guerra e terror chegue ao fim. O Estado por meio da secretaria de educação tem um papel fundamental que é evitar a evasão escolar desses jovens, por meio da secretaria de infraestrutura permitir que serviços essenciais cheguem nas margens das cidades. Criar programas que permitam às e aos jovens desenvolverem suas potencialidades e poderem ter oportunidades de emprego. Assim como, a segurança pública precisa sair da lógica racista e da necropolítica de lidar com a violência urbana. O seu propósito precisa ser a todo custo o direito à vida. Falar sobre, de forma franca e honesta, sobre processo de legalização da maconha, e passar ao Estado como produtor, distribuidor e fiscal. É um caminho que muitos países sérios do mundo estão trilhando, e o valor econômico dessa legalização seja direcionado à educação, cultura, lazer e, porque não, a um caminho a um novo pacto de segurança pública e de novos sentidos de viver à cidade.


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